quarta-feira, 12 de março de 2008

“La habitacion de Fermat”


“La habitacion de Fermat”

O primeiro filme de Luís Piedrahita e Rodrigo Sopeña recebe dois prémios no 28º Edição do Fantas Porto, na Secção Oficial Cinema Fantástico na Categoria de Melhor Argumento e alcançando ainda o Méliès de Prata do Festival.

Tanto Luís Piedrahita e Rodrigo Sopeña são conhecidos por serem argumentistas de stand up comedy. As suas críticas destinam-se, principalmente, à televisão e rádio espanholas.

A história de “La habitacion de Fermat”, o primeiro filme de ambos os realizadores, gira em torno de quatro matemáticos desconhecidos que são convidados por uma misteriosa personagem apelidada de Fermat. Sobre o pretexto de serem mentes brilhantes são atraídos a desvendar um aliciante enigma. Uma vez todos juntos, percebem que as suas vidas dependem, unicamente, das suas capacidades em resolver problemas matemáticos.

O filme não se revelou eficaz, a narrativa arrisca criar uma pressão em torno da constante ameaça que os personagens se encontram e a resolução das dificuldades, para assim absorver o público nesta problemática. Todavia esta dualidade falha. O público não é cativado, porque o que seria de esperar, desta história seriam enigmas que absorvessem tanto o público como as próprias personagens. O que se constata é que brilhantes matemáticos são confrontados com enigmas do entendimento geral. São aqueles problemas que todos nós tivemos acesso quando éramos pequenos e tinham como intuito “puxarmos” pela cabeça. Levanta-se então a questão da necessidade de serem as personagens matemáticos ou não. Contudo é compreensível a opção dos realizadores em usar estes pequenos problemas populares; usam-nos para terem espaço para desenvolver as relações entre as personagens.

O filme está recheado de bons actores, mas mais uma vez o argumento falha na interligação das personagens. A situação criada para juntar as personagens e para explorar as suas relações baseia-se na ameaça de morte. No entanto perante uma situação de eminente perigo, onde a única solução para ganhar algum tempo é a resolução de problemas, os personagens, pessoas que baseiam a sua vida no raciocínio reagem de forma muito pouco racional, entrando em paranóia.

Porém apesar de tudo isto, o filme ganhou o prémio de melhor argumento e o Méliès de prata da 28º Edição do Festival Fantas Porto. Estes prémios são sustentados pelo facto da excelente maturidade que estes jovens realizadores apresentaram na “La habitacion de Fermat”, conseguindo provar um suficiente domínio da linguagem técnica inerente à construção de uma intriga cinematográfica. Nota-se uma cuidada atenção às opções estéticas, a fotografia do filme e à caracterização do espaço, que se revela excelente.

Estes realizadores têm um longo caminho a percorrer e este filme é a prova que ainda estão muito ligados à escrita de pequenos sketchs, que se constroem e articulam de um diferente modo em comparação com um argumento cinematográfico.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

4 Meses, 3 Semanas, 2 Dias





“4 Meses, 3 Semanas, 2 Dias”

Chega às salas de cinema portuguesas o vencedor da Palma de Ouro, do Festival de Cannes 2007.

Um tema dos nossos dias numa perspectiva dos anos 80, o Aborto na Roménia Comunista.
Gabita e Ottilia são duas raparigas que partilham o quarto, numa residência universitária. Gabita encontra-se grávida, o aborto é ilegal, mas a sua única opção. Ottilia decide então ajudar a sua amiga, envolvendo-se inevitavelmente numa série de sequelas inesperadas.
«4 MESES, 3 SEMANAS, 2 DIAS» surge inerente ao facto da Roménia ser, atrás da França, o país onde mais abortos se praticam na Europa. Um tema tão delicado em 1987, em pleno regime comunista, mas que nos dias de hoje ainda constitui uma ameaça global ao valores morais.
É o primeiro de um projecto de vários filmes, de nome: «Tales from the Golden Age», e visam traçar uma história subjectiva do comunismo. O propósito deste projecto é falar sobre esse período, sem nenhuma alusão directa ao comunismo, mas apenas através de diferentes histórias e opções pessoais que as personagens experienciam, num tempo de infortúnios em que as pessoas tiveram que viver, como épocas normais.
O filme revelou-se eficaz quer na escolha do tema quer na sua articulação. É de salientar a excelente realização de Cristian Mungiu, que optou por usar câmara ao ombro nas cenas de “perseguição”, enquadrou muitas vezes as personagens ao nível dos olhos, usou e abusou de longos planos, que ao contrário do que seria de esperar, se revelaram extremamente dinâmicos. Reconstituiu com êxito o ambiente social, arquitectónico e dramático do regime vigente, o que conferiu ao filme uma veracidade inigualável.
Em relação à fotografia de cena é importante salientar a mestria do realizador, ao criar a ilusão de descuido, ou até de “filme amador”. Cria planos bastante expressivos da angústia patente a um tema como o aborto. Contudo as cores presentes no filme são cores características de um país de leste, como a Roménia.

É também necessário demonstrar a elevada projecção que o filme cria em qualquer faixa etária, não só devido ao seu tema, mas também às repressões muito próprias de um regime, como por exemplo a necessidade de ir buscar coisas tão essenciais como contraceptivos ou mesmo tabaco ao mercado negro. Estas, são situações ainda presentes, em países que sofreram a existência de um regime ditatorial, como aconteceu em Portugal.

De há três anos para cá, o cinema romeno vem ganhando reconhecimento de excelência no cinema europeu, de que este filme é exemplo.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Koyaanisqatsi











Análise Crítica

“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” _ Antoine Laurent Lavoisier

Realizado por Godfrey Reggio, produzido por Francis Ford Coppola e banda sonora de Phillip Glass, “Koyaanisqatsi” retrata a vida em desequilíbrio. Ko. Yaa. Nis. Qa. Tsi. _ é um vocábulo Hopi, uma tribo dos EUA; Significa, vida louca, em tumulto, em desintegração.
Neste documentário, podemos observar claramente uma dualidade entre o natural e o artificial, na analogia Natureza vs Homem.

“Koyaanisqatsi” _ 1º Capítulo e “Organism” _ 2º Capítulo: A imponente banda sonora é alusiva à “divina” presença, pretendida nas imagens. São-nos presenteados realidades distantes, raras, isoladas, inóspitas ao acesso humano, de extrema grandiosidade e beleza. É transpirável a profunda harmonia e equilíbrio natural. Os planos, nestes capítulos, estão de acordo com a subjectividade inerente, por isso mesmo são mais morosos, na sua articulação.
A luz usada é focalizada e à semelhança da pintura, confere às imagens um certo tom tenebroso e dramático (percebemos o ponto alto e assunto retratado).

“Cloudspace” _ 3º Capítulo: Verificamos que a música torna-se mais acelerada e antevê uma transição de relativa importância para a compreensão do documentário. Por isso mesmo, existem menos planos fixos e estes tornam-se mais rápidos, ilustrando passagens temporais pronunciadas, através das condições atmosféricas. Existe um maior dinamismo nos planos, contudo o equilíbrio mantém-se. A ausência física do homem continua, porém devido à carga dramática que a música vai ganhando, percebemos que o Homem “está por perto”.

“Resource” _ 4º Capítulo: Recursos industriais, paisagens manipuladas, delimitadas e artificiais, é então perceptível a presença Humana. Uma presença representada pela música e pela plasticidade visual como terrível, maléfica. É neste momento que podemos contextualizar “ Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. São criados momentos de pausa e reflexão onde são negros os avanços tecnológicos e as suas repercussões. Contudo reinicia-se a dinâmica dos planos em busca do centro da vida humana.

“Vessels” _ 5º Capítulo: Chegamos então à cidade, metaforicamente caracterizada como uma guerra e um caos. Assistimos ao recurso de imagens de arquivo, como as da bomba atómica e o seu efeito cogumelo e as imagens das Grandes Guerras Mundiais (necessidade em frisar a reincidência de erros cometidos, ao longo dos séculos, pelos homens), (Homem responsável vs Homem sofredor). E assim vivem as sociedades, em “comunhão” com o seu desequilíbrio social e económico. Aqui é colocada em questão a representação do Homem como identidade máxima e a sua distorcida evolução. Mais uma vez a banda sonora desempenha um papel fulcral no entendimento e aceitação, destas realidades díspares. Percebemos assim, a escolha do realizador ao utilizar movimentos de câmara, planos ritmados e contrastantes para uma caracterização global das acções humanas.

“Pruit Igoe” _ 6º Capítulo: Neste capítulo percebemos qual a mancha visual que as civilizações mais carismáticas do planeta representam. Um borrão preenchido por luzes, ciência e poluição. Os elementos mais expressivos desta realidade, prendem-se com as panorâmicas feitas durante a noite _revelam uma intensidade dramática muito própria e a banda sonora. Para dar resposta à frenética rotina destas cidades, os planos mais uma vez foram acelerados.

“The Grid” _ 7º Capítulo: Mais uma vez, o realizador usufrui de tecnologias próprias de situações de extrema hostilidade, tirando partido do valor estético das imagens a infra-vermelhos, exprimindo a disputa diária do mundo citadino. Passa para uma caracterização psicológica e metódica do ser pensante. Neste capítulo há uma abordagem ao preenchimento temporal destes seres, o trabalho. O que torna interessante a visão é mais uma vez a comparação, mas agora, entre o Homem e máquina. Homem como máquina, desempenha todos os dias a mesma rotina, os mesmos sistemas frenéticos e repetitivos. Constata-se a ausência duma felicidade “natural” e a presença de uma programação.

“Prophecies” _ 8º Capítulo: Banda sonora como elemento catalizador de reflexão acerca de eterna busca, a felicidade. Vemos aqui, um outro lado, a vulnerabilidade da condição humana, uma condição efémera. Momentos mais pausados, representativos da ambição que nos levou a sofrer as consequências da alteração dos processos naturais.


Organizei esta análise em conformidade com as “soundtrack”. O papel da banda sonora neste documentário, confere muito do seu dinamismo, reflexão e consciencialização. Por isso, cada capítulo está estudado conforme o seu valor expressivo e fundamental para a compreensão do filme.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Douro, Faina Fluvial




Douro, Faina Fluvial

Um filme de Manuel de Oliveira (1931)

Um filme que me tirou a respiração ao longo dos seus 20 minutos

Um filme que me acelerou o circuito para me estampar um sorriso de ponta a ponta



A todos que não o viram

Vejam e tirem as vossas conclusões..

terça-feira, 23 de outubro de 2007

A menina que vivia ao contrário















A menina que vivia ao contrário
Fugia de café em café
De lugar em lugar
Buscando a cidade perfeita
Cidade que jamais seria
O que Outrora fora

Uma menina que vivia do contrário
Sonâmbula cambaleava Perdida.
Grãos ingeridos e digeridos.
Somente lembranças buscava
Pois cafés já não haviam.

A menina que vivia ao contrário
Olhava com o coração,
Sentia com os olhos,
Respirava pelas orelhas

Perdida,
Ansiava encontrar,
talvez murmurar
Pessoas faladas
Recantos intactos
Refúgios dissipados
Em lugares procurados
Num mundo às direitas,
Nunca mais ao contrário

Ela que vivia do inverso
Inversamente movia-se